terça-feira, 25 de novembro de 2008

Indigo shoes


You ain't never been blue, no, no, no
You ain't never been blue
Till you've had that mood indigo
That feeling goes stealing down to my shoes
While I just sit here and sigh

Mood Indigo, Nina Simone

A obsessão por shoes deve ter uma explicação. Torção do tornozelo em julho, em um bar que se dizia rock n' roll em Buenos Aires, mas que no final, eletrônico de péssima. E desde então, olho sempre onde piso, mirando de vez em quando meus próprios pés. A obsessão por olhar, pensar e calcular antes de agir era algo tão distante da minha personalidade que precisei de alguns percalços, degraus inexistentes, pedras no sapato e afins para conseguir adaptá-la à minha impulsiva racionalidade. Agora, tudo parece passar pelo controle do cálculo, mesmo que mal feito, já que não sou e nunca serei boa em matemática, por mais que a psicanálise insista em criar fórmulas para meu comportamento BOCÓ.

Fase de desconfiança exacerbada é uma bosta. Olho torto até para a minha sombra, quanto mais para as letras, tão mentirozinhas, sonsas e cínicas. Não, vocês não vão chegar à verdade mesmo que insistam em tentar representar com todos os detalhes possíveis a menor partícula minimazinha do mundo das aulas de química. Não, vocês, letrinhas, não conseguem porque estão também sujinhas desse fetichismo besta que é o capital. Mas pelo menos, consegui me descontaminhar da pseudo-sensibilidade vendida em qualquer bar da vila madalena e de algumas das pessoas que, por alguma razão ou outra, deixei que entrassem. Mas afinal, diriam, a porta estava aberta.

Descobri, no entanto, que o que me faltava era apenas dar alguns passos. Descer a Angélica com fones de ouvido e sentir que se continuar andando vou lembrar de manter as minhas costas retas. Meus ombros largos e para trás. Postura. Mas não postura blasé, artificial, fake, como tudo que tenho visto nos últimos tempos. Uma postura só minha contra a gravidade. Contra a gula de um mundo cheio de produtos. Desses rostinhos de dodói, mas corados pelo dindim.


Shoes

Let the truth be known / I’ve got to walk around in my own tennis shoes / Let the truth be known / I have to learn to live in this world on my own / Let the truth be known / Nobody showed me how supposed to go.

Bob Forrest – The Bicycle Thief


http://ffffound.com/

blink

Poetry is not a sign of heart, she said.
I´m getting out of light, he said.
But I think it’s my fault.
Things are going weirder and weirder and we don’t seem to see.
Let me go back to my backyard
And try to hold on something beautiful.
Not let go. Let it be weird. Let it be reasonable for itself.
Focusing on what is precious. Late at night, it might sound funny.
Have the dimension of whats huge. Sound like a silver machine.
Golden silence.
Fallen leaf silence.
Across those dark eyes you will see.