segunda-feira, 29 de junho de 2009

Bolotas de poeira

Quase todos os dias aquela paz reinava sem explicação. Clotilde achava que eram os remédios, aqueles bem naturais que a tornavam cada vez mais natural. Suas mãos estavam mais leves, seu espírito, mais limpo e belo. Nem mesmo as bolotas de poeira nos cantos da casa a incomodavam tanto. Não sentava no chão, mas também não espirrava, enlouquecida. As adversidades eram cada vez mais belas em sua diversidade. Aceitou o novo e o velho como irmãos. Chorava de felicidade, ria sem pensar. — Comemore todos os seus aniversários, Clotilde, a vida é para ser celebrada. Via o real pelo buraco de uma câmara escura. Tudo merecia ser registrado, do mais simples ao mais difícil de ser compreendido. — Quando o homem percebe a heroicidade de seu cotidiano, aquele desejo de ser o herói impossível se acalma. Percebe que não precisa fazer além de.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Um dia muito especial (Ettore Scola)


De tão perfeitos, certos filmes nos fazem gostar mais da vida. Especialmente filmes em que ser diferente é belo, ser contra um sistema não te torna ridículo, mas mais livre e humano. Ou você é livre e, por isso, não se encaixa no sistema? Enfim, muito tempo é perdido quando se tenta seguir pessoas, objetivos, deveres, que não cabem nas nossas calças. Não eram seus, mas de tanto insistirem, você os toma para si. E com o passar dos dias, meses, anos, ficam tão incrustados que é difícil retirá-los, espinhos de rosa dentro dos poros da pele. É pegar a pinça e ir tirando, um a um.