terça-feira, 7 de dezembro de 2010

feixe

Eu eu eu eu, uma hora preciso deixar de ser eu, mas é impossível. Tu não te moves de ti. Cansei de palavras jornalísticas, cansei de racionalidade, objetividade, quero poesia, e às vezes fica tão difícil ver poesia. Às vezes o mundo parece tão duro que nada parece ter nenhum brilho. Parece que a poesia corre corre corre para longe de tudo. Ao redor só se vê uma pseudo orgnaização. Televisão na Globonews, notícias, trânsito. Me esqueço que não é a poesia que tem que vir até mim, eu que tenho que correr atrás dela, feito cão sedento. Quando ela aparece sempre, num feixe de luz, num momento de paz de espírito, eu não a procuro, porque ela apareceu sem eu pedir. É só vir a dor no peito, o nó na garganta, a vontade imensa de dormir, não por sono, mas por necessidade de apagar, que eu clamo por ela, em desespero. Mas ela, obviamente, não aparece quando quero. Resta trancar-me num quarto escuro e esperar.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

que seja doce



Capuccino com bastante gosto de chocolate derretido. Livros um ao lado do outro, todos de autores perfeitamente legíveis hoje, amanhã e sempre. Geladeira velha amarela. Amizade. Ver que o mundo não é pequeno de novo. Ver que o mundo é grande de novo. Dar liberdade aos pensamentos paranóicos que giravam e giravam como borboletas presas num aquário de ponta cabeça. Filmes imperfeitos, mas perfeitos em sua imperfeição. Diálogos que poderiam ser seus, meus, deles, e os são. Diálogos reais que às vezes parecem inverossímeis de tão complexos e cheios de entrelinhas. Diálogos em que, no meio, percebemos que não sabemos bem do que estamos falando e por que estamos falando. Silêncio tranquilo em dois. Família. Casa. Pela primeira vez sentindo-se em casa em casa.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

eixos

Um só ambiente e é lá que transito o tempo inteiro. Banheiro minúsculo, cozinha minúscula e a sujeira potencializa meus tocs e frescuras. Limpo, limpo, limpo, e continuo com a sensação de coceira, cheiro de pó, à espera de que algum monstro/barata/rato me ataque a qualquer momento.

As noites não são tranqüilas. Acordo com barulhos estranhos. A chuva parece mais pesada e eu ainda temo que alague tudo. Meus pensamentos são sempre sobre catástrofes, o pessimismo é sempre anterior e com ele crio na minha cabeça formas de sobrevivência a um possível desastre que para mim é sempre iminente. Parece a infância tudo de novo. Desaconchego, incômodo, medo.

Não sou afeita a mudanças, apesar de me jogar de cara em todas elas. Não sei o que me move a mudar se toda adaptação é sempre tão dolorosa e cansativa. Sempre pensando no quanto o que veio antes era melhor. Desde o taco do chão até o espaço do box, o tipo de pessoas que encontro na rua, os sons e os cheiros.

Nos primeiros meses, é sempre o ruim que me salta aos olhos, nada positivo surge em nada, e esses pensamentos tomam a forma de uma leve obsessão. Não consigo pensar em outra coisa a não ser o quanto o tempo leva as coisas e como as coisas do passado de repente se tornam tão intocáveis e perfeitas. Mesmo que de um passado de poucas horas antes.

A beleza vem raramente. Quando o sol abre por alguns minutos nesses dias de Rio cinzento. Luzes temporárias para um cotidiano ainda feio. Até o Pão de Açúcar embruteceu quando dentro há só pedregulhos. Pedregulhos de pura paranoia, não propriamente tristeza, apenas desajuste. Quando se sabe que não está nos eixos. Sem a tranqüilidade de uma rotina de exercícios, refeições no mesmo horário e oito horas de sono.

domingo, 19 de setembro de 2010

corpo mente

Depois de alguns meses sem psicanálise, só hoje consegui entender exatamente o que estava me incomodando no divã. Transformei a psicanálise em ditadura, fascismo, em um monte de regras que eu não podia quebrar. Eu me transformei na minha própria fascista, com um pouco de ajuda da analista. Em uma ausência de sentimento ou qualquer experiência sensorial. Tudo virou discurso, lógica, mas não a lógica bela - minto, em alguns momentos era sim bela, no início - mas no final, tornou-se censura na maior parte do tempo. Auto-censura. Sem arte, sem beleza, sem surpresa, só uma coisa dura, cinza, concreta de tão fria.

Agora que estou em silêncio, me permito sentir-me awkward, com raiva, triste, contente. Tudo isso estava indo ralo abaixo. Não me permitia e sofria mais, porque a proibição intensifica o sentimento. Mas não era culpa da psicanálise, era culpa minha, a psicanálise é o que você faz dela. Talvez, o que aconteceu foi que eu consegui chegar onde tinha de chegar, só precisava parar de andar. Exatamente. Tinha que parar com o dicurso, porque parecia um cachorro caçando o próprio rabo. O discurso me colocou num beco sem saída. Se você descobre que age de uma forma que te faz sofrer, muda, e depois segue em frente é uma coisa. Mas ficar repetindo e repetindo o quanto você não pode agir daquela forma de novo é transformar-se em policial de si mesmo. Agarrar-se ao medo e desistir da vida. Afinal, na sociedade contemporânea não faltam policiais para você, você não precisa ser mais um, e provavelmente não era o que freud tinha em mente.

Por isso, para usar as palavras do meu fisioterapeuta (ah terapias), dance. O corpo não é feito para levantar tijolo, não é feito para enrijecer-se e tornar-se biônico. Então dance, ande de costas. Pra quê? Para nada. Para ser. Não pensar em objetivos, metas, modelos do que é supostamente ser feliz e saudável. Mas sem tornar o não pensar em objetivos em um objetivo e voltar à estaca zero do fascismo. Não ser blasé, criar sim expectativas. Ser humano e não esse projeto de ser biônico que todo mundo quer que você engula goela abaixo. 'Ah não crie expectativas', 'coma arroz integral, mesmo que sua comida fique insosa', 'faça musculação, mesmo que você pareça um soldado'. 'Seja magro, saudável, cool e tenha um amor, mesmo que você não o ame tanto assim'. 'Pareça'.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

sofia coppola by france presse

porquois

tem dias que a inutilidade de existir fica mais forte do que nunca, bombando. qual o sentido de assistir TV, comer, dormir, preocupar-se com afazeres que não são nada além de fuga. claro que sabemos disso todos os dias, mas tem dias tão cinzas que tudo fica com cara de inútil, babaca, a ira toma conta de forma veemente, só que o superego está lá para segurá-la dentro, como numa camisa de força, e transformá-la em nó no peito, ansiedade, angústia, total ausência de tranquilidade. qual o sentido de comprar orquídeas, dizer oi, lavar os pratos, cortar os cabelos, sentir perfumes, ouvir música e perceber que você não é o único a não ver sentido. claro que o sentido está nisso tudo mesmo, em não ver sentido, nos encontros, mas e daí, será que não é se contentar com pouco. apaixonar-se também não é tão com sentido, pois acaba e depois percebemos o quanto nos apaixonamos só para achar um sentido. beber, drogar-se, ler, acreditar. over and over again.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

puf

Por que matutar algo novo se na verdade o novo já chegou e é o agora bem diferente do ontem só que mais bonito? Fez puf e sentou no pufe. Acendeu devagar um cigarro observando o pôr do sol da bela vista e suas impurezas poluições e poesias pensando: por que não a augusta?

objects of my affection

escutando peter bjorn, ouvindo na cabeça o que eu estaria dizendo se as circunstâncias tivessem permanecido as mesmas. mas mudaram e eu já não falo tanto assim e não escuto tanto assim as minhas próprias pirações. and the question is was i more alive then than i am now. i happily have to disagree. mas se estivesse estaria pensando se eu continuo sendo o que era antes ou se sou capaz de construir algo que não existia. i laugh more often now and i cry more often now. i am more me. no final das contas só o que eu queria era essa última frase. com convicção e não hesitação.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

meio vazio




do FFFFOUND!.

autobus

Segurando a garganta embargada antes de o ônibus chegar, ela percebeu que nunca, em toda a sua vida, amar fora tão difícil. Tudo está tão complicado que na verdade era muito simples, pensou, olhando para ele com os olhos questionadores, tentando encontrar alguma resposta. Por que o ultimamente estava tão fora de lugar? Por que parece que queremos, dizemos que queremos, mas na verdade, quando chega a hora, percebemos que estamos bem sozinhos. Estaremos algum dia prontos? Não, ele disse. Não tente esperar esse dia chegar. Não pretenda tal coisa. Vai passar tudo e você não viu nada, ficou parada que nem besta esperando o grande-dia-de-quando-você-estaria-pronta. Faça me um favor e pare com essa paranoia. Pare de gastar com aquele divã idiota. E ela disse não me venha com essa de vou-pagar-a-conta-do-analista-pra-nunca-mais-saber-quem-eu-sou. Ele disse é isso mesmo, o maluco sabia das coisas. Ele disse eu te amo e se escondeu no ônibus, olhando a porta de vidro fechar e sem encará-la de frente. Não conseguir encará-la, mas dizer, era a forma de ele se proteger também. Cada um com os seus bloqueios, seus escudos. Suas portas transparentes. Mas talvez não fosse por mal, ela pensou. Se eu tenho dúvidas porque ele não as teria. Talvez fosse melhor não ter sido dito, já que não era tão certo. Certamente não era tão certo.

terça-feira, 27 de julho de 2010

bonds



Rosa não sabia mais distinguir o amor. Esperou Pedro chegar ao restaurante para lhe dizer que havia enlouquecido, que parecia estar amando tudo e todos ao mesmo tempo, toda a humanidade, todas as folhas de árvores e até a poeira embaixo do colchão. Todos pareciam interessantes em seu modo peculiar de apenas ser. Se houvesse esforço, cada um, de perto, era um pequeno universo a ser explorado, tão gigantemente interessante que ela sentia vontade de abraçar. Tinha de haver algum problema nesse comportamento promíscuo.

"Quem gosta de todo mundo não gosta de ninguém", disse Pedro. Pedro e suas sacadas sarcásticas. Pedro e suas verdades. Ele sempre tinha um ponto de vista tão diferente do seu, mas por algum motivo, tão semelhante, como se ele fosse ela só que um pouco mais à frente no tempo.

Sim, ela pensou. Talvez não amasse realmente ninguém, porque é impossível amar tantas coisas ao mesmo tempo, não há espaço. Ou não, talvez estivesse amando mais a si mesma, o que a tornava capaz de amar a todos ao mesmo tempo pela primeira vez. Engolir a vida com o coração maria-mole.

"Coração que amolece não endurece depois", avisou Pedro, impaciente. "Afinal, quando você vai apenas sentir?".

algo como a felicidade



ser jovem é se ver no dilema entre não querer ser o que seus pais foram e não enxergar muito bem uma forma de ser diferente disso. como fugir do emprego na fábrica, do casamento falido ou da solidão? sonhar alto ou simplesmente encontrar a felicidade em coisas modestas? como distinguir entre felicidade e mera tranquilidade da acomodação? ou, depois de se conseguir o que desejava, como saber se era isso mesmo o que queria? difícil é distinguir entre o desejo e o querer. Melhor começar sabendo o que não se quer de jeito nenhum.

domingo, 18 de julho de 2010

miss




É impressionante como sinto saudade de São Paulo. Sinto falta da Paulista, dos faróis que não são 'sinal', dos arranha-céus, do gigantismo. Da prepotência de uma cidade que só deve ser superada por Nova York. Sinto falta da Augusta, dos cinemas, dos restaurantes, dos lugares que aceitam cartão de crédito, do fato de eu poder pedir um screwdriver na balada de rock sem olharem para mim com uma interrogação. Sinto falta da livraria cultura, engraçado como antes eu não comprava nada lá e hoje tenho vontade de comprar todos os DVDs do mundo. Sinto falta dos ônibus, do Bilhete Único, do metrô, da Angélica, da Alameda Barros. Sinto falta dos meus amigos. Sinto falta do elevador velho do meu prédio e dos treze andares até chegar em casa. Da minha cama e dos meus livros. Sinto falta da minha mãe e da minha irmã. Por que precisamos abrir mão de um monte de coisas para conseguir outras coisas que queremos?

Célibataire


Lapa way of life

fears


I don´t know what to do. No momento, esperar. Esperar e aguentar a ansiedade. Como seria melhor viver sem ansiedade, sem angústia, sem frio na barriga ruim, sem esse medo de não sei o quê. De bicho papão no escuro. No final, é só imaginação. Quando apagam-se as luzes, ficam apenas os medos. Os monstros criados, fantasiados. Por que criar tantos monstros? Por que se desesperar tanto com algo que não é nem ao menos palpável? Imaginar, imaginar, imaginar. Como seria mais fácil não pensar em nada além do presente. Ter calma para olhar a figura inteira e ter a noção de que as coisas não são para ontem. Que não se vai morrer amanhã. Minha ansiedade está beirando o limite do aceitável ultimamente e cansei do autocontrole abissal que preciso ter para conseguir focar. Focar no presente e parar de me preocupar tanto com o passado e tanto com o futuro. Não saber o que vai acontecer e o que fazer é bom. É tudo o que eu queria para me livrar do tédio.

Para enfrentar os medos é preciso primeiro identificá-los, e essa é a parte mais difícil. Como no Anticristo, o medo da selva. Qual é a minha selva? Onde tenho que me jogar para conseguir enxergar bem qual é o limite que eu acho que tenho?

terça-feira, 13 de julho de 2010

ficando grande, mas menor

Voltar às letras depois de anos de interrupção e apenas vinte minutos até que eu comece de novo os movimentos mecânicos.
Me vejo novamente na velha escolha entre o previsível e seguro e a adrenalina fulminante, aquela que te deixa sem chão. Óbvio que escolherei a segunda, quem pretendo enganar?
Melhor ser a Bela Junie e renunciar para evitar mortos e feridos ou simplesmente se jogar com a probabilidade bem alta de atingir o fundo com a cabeça e, não ficar paralítica, mas ter seqüelas que de qualquer forma não são tão cicatrizáveis assim.
Quando se é jovem tudo parece muito limpo. Tudo é novo de uma forma que não será de novo e depois dos 25, e com a minha cabeça de velha, as coisas têm um ar de nostalgia, mesmo aquelas que são novas, já não são tão novas assim.
Vive-se muito em tão pouco tempo, imagine daqui ao dobro deste tempo.
Inseguranças. Medo do descontrole do tempo. Mas no final, mesmo as coisas muito boas, estão ficando um pouco mais calmas. A maturidade chega e tira um pouco do sabor do ecstasy. Mas deixa um pouco mais de sensatez e autopreservação.