terça-feira, 27 de julho de 2010

bonds



Rosa não sabia mais distinguir o amor. Esperou Pedro chegar ao restaurante para lhe dizer que havia enlouquecido, que parecia estar amando tudo e todos ao mesmo tempo, toda a humanidade, todas as folhas de árvores e até a poeira embaixo do colchão. Todos pareciam interessantes em seu modo peculiar de apenas ser. Se houvesse esforço, cada um, de perto, era um pequeno universo a ser explorado, tão gigantemente interessante que ela sentia vontade de abraçar. Tinha de haver algum problema nesse comportamento promíscuo.

"Quem gosta de todo mundo não gosta de ninguém", disse Pedro. Pedro e suas sacadas sarcásticas. Pedro e suas verdades. Ele sempre tinha um ponto de vista tão diferente do seu, mas por algum motivo, tão semelhante, como se ele fosse ela só que um pouco mais à frente no tempo.

Sim, ela pensou. Talvez não amasse realmente ninguém, porque é impossível amar tantas coisas ao mesmo tempo, não há espaço. Ou não, talvez estivesse amando mais a si mesma, o que a tornava capaz de amar a todos ao mesmo tempo pela primeira vez. Engolir a vida com o coração maria-mole.

"Coração que amolece não endurece depois", avisou Pedro, impaciente. "Afinal, quando você vai apenas sentir?".

algo como a felicidade



ser jovem é se ver no dilema entre não querer ser o que seus pais foram e não enxergar muito bem uma forma de ser diferente disso. como fugir do emprego na fábrica, do casamento falido ou da solidão? sonhar alto ou simplesmente encontrar a felicidade em coisas modestas? como distinguir entre felicidade e mera tranquilidade da acomodação? ou, depois de se conseguir o que desejava, como saber se era isso mesmo o que queria? difícil é distinguir entre o desejo e o querer. Melhor começar sabendo o que não se quer de jeito nenhum.

domingo, 18 de julho de 2010

miss




É impressionante como sinto saudade de São Paulo. Sinto falta da Paulista, dos faróis que não são 'sinal', dos arranha-céus, do gigantismo. Da prepotência de uma cidade que só deve ser superada por Nova York. Sinto falta da Augusta, dos cinemas, dos restaurantes, dos lugares que aceitam cartão de crédito, do fato de eu poder pedir um screwdriver na balada de rock sem olharem para mim com uma interrogação. Sinto falta da livraria cultura, engraçado como antes eu não comprava nada lá e hoje tenho vontade de comprar todos os DVDs do mundo. Sinto falta dos ônibus, do Bilhete Único, do metrô, da Angélica, da Alameda Barros. Sinto falta dos meus amigos. Sinto falta do elevador velho do meu prédio e dos treze andares até chegar em casa. Da minha cama e dos meus livros. Sinto falta da minha mãe e da minha irmã. Por que precisamos abrir mão de um monte de coisas para conseguir outras coisas que queremos?

Célibataire


Lapa way of life

fears


I don´t know what to do. No momento, esperar. Esperar e aguentar a ansiedade. Como seria melhor viver sem ansiedade, sem angústia, sem frio na barriga ruim, sem esse medo de não sei o quê. De bicho papão no escuro. No final, é só imaginação. Quando apagam-se as luzes, ficam apenas os medos. Os monstros criados, fantasiados. Por que criar tantos monstros? Por que se desesperar tanto com algo que não é nem ao menos palpável? Imaginar, imaginar, imaginar. Como seria mais fácil não pensar em nada além do presente. Ter calma para olhar a figura inteira e ter a noção de que as coisas não são para ontem. Que não se vai morrer amanhã. Minha ansiedade está beirando o limite do aceitável ultimamente e cansei do autocontrole abissal que preciso ter para conseguir focar. Focar no presente e parar de me preocupar tanto com o passado e tanto com o futuro. Não saber o que vai acontecer e o que fazer é bom. É tudo o que eu queria para me livrar do tédio.

Para enfrentar os medos é preciso primeiro identificá-los, e essa é a parte mais difícil. Como no Anticristo, o medo da selva. Qual é a minha selva? Onde tenho que me jogar para conseguir enxergar bem qual é o limite que eu acho que tenho?

terça-feira, 13 de julho de 2010

ficando grande, mas menor

Voltar às letras depois de anos de interrupção e apenas vinte minutos até que eu comece de novo os movimentos mecânicos.
Me vejo novamente na velha escolha entre o previsível e seguro e a adrenalina fulminante, aquela que te deixa sem chão. Óbvio que escolherei a segunda, quem pretendo enganar?
Melhor ser a Bela Junie e renunciar para evitar mortos e feridos ou simplesmente se jogar com a probabilidade bem alta de atingir o fundo com a cabeça e, não ficar paralítica, mas ter seqüelas que de qualquer forma não são tão cicatrizáveis assim.
Quando se é jovem tudo parece muito limpo. Tudo é novo de uma forma que não será de novo e depois dos 25, e com a minha cabeça de velha, as coisas têm um ar de nostalgia, mesmo aquelas que são novas, já não são tão novas assim.
Vive-se muito em tão pouco tempo, imagine daqui ao dobro deste tempo.
Inseguranças. Medo do descontrole do tempo. Mas no final, mesmo as coisas muito boas, estão ficando um pouco mais calmas. A maturidade chega e tira um pouco do sabor do ecstasy. Mas deixa um pouco mais de sensatez e autopreservação.