domingo, 19 de setembro de 2010

corpo mente

Depois de alguns meses sem psicanálise, só hoje consegui entender exatamente o que estava me incomodando no divã. Transformei a psicanálise em ditadura, fascismo, em um monte de regras que eu não podia quebrar. Eu me transformei na minha própria fascista, com um pouco de ajuda da analista. Em uma ausência de sentimento ou qualquer experiência sensorial. Tudo virou discurso, lógica, mas não a lógica bela - minto, em alguns momentos era sim bela, no início - mas no final, tornou-se censura na maior parte do tempo. Auto-censura. Sem arte, sem beleza, sem surpresa, só uma coisa dura, cinza, concreta de tão fria.

Agora que estou em silêncio, me permito sentir-me awkward, com raiva, triste, contente. Tudo isso estava indo ralo abaixo. Não me permitia e sofria mais, porque a proibição intensifica o sentimento. Mas não era culpa da psicanálise, era culpa minha, a psicanálise é o que você faz dela. Talvez, o que aconteceu foi que eu consegui chegar onde tinha de chegar, só precisava parar de andar. Exatamente. Tinha que parar com o dicurso, porque parecia um cachorro caçando o próprio rabo. O discurso me colocou num beco sem saída. Se você descobre que age de uma forma que te faz sofrer, muda, e depois segue em frente é uma coisa. Mas ficar repetindo e repetindo o quanto você não pode agir daquela forma de novo é transformar-se em policial de si mesmo. Agarrar-se ao medo e desistir da vida. Afinal, na sociedade contemporânea não faltam policiais para você, você não precisa ser mais um, e provavelmente não era o que freud tinha em mente.

Por isso, para usar as palavras do meu fisioterapeuta (ah terapias), dance. O corpo não é feito para levantar tijolo, não é feito para enrijecer-se e tornar-se biônico. Então dance, ande de costas. Pra quê? Para nada. Para ser. Não pensar em objetivos, metas, modelos do que é supostamente ser feliz e saudável. Mas sem tornar o não pensar em objetivos em um objetivo e voltar à estaca zero do fascismo. Não ser blasé, criar sim expectativas. Ser humano e não esse projeto de ser biônico que todo mundo quer que você engula goela abaixo. 'Ah não crie expectativas', 'coma arroz integral, mesmo que sua comida fique insosa', 'faça musculação, mesmo que você pareça um soldado'. 'Seja magro, saudável, cool e tenha um amor, mesmo que você não o ame tanto assim'. 'Pareça'.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

sofia coppola by france presse

porquois

tem dias que a inutilidade de existir fica mais forte do que nunca, bombando. qual o sentido de assistir TV, comer, dormir, preocupar-se com afazeres que não são nada além de fuga. claro que sabemos disso todos os dias, mas tem dias tão cinzas que tudo fica com cara de inútil, babaca, a ira toma conta de forma veemente, só que o superego está lá para segurá-la dentro, como numa camisa de força, e transformá-la em nó no peito, ansiedade, angústia, total ausência de tranquilidade. qual o sentido de comprar orquídeas, dizer oi, lavar os pratos, cortar os cabelos, sentir perfumes, ouvir música e perceber que você não é o único a não ver sentido. claro que o sentido está nisso tudo mesmo, em não ver sentido, nos encontros, mas e daí, será que não é se contentar com pouco. apaixonar-se também não é tão com sentido, pois acaba e depois percebemos o quanto nos apaixonamos só para achar um sentido. beber, drogar-se, ler, acreditar. over and over again.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

puf

Por que matutar algo novo se na verdade o novo já chegou e é o agora bem diferente do ontem só que mais bonito? Fez puf e sentou no pufe. Acendeu devagar um cigarro observando o pôr do sol da bela vista e suas impurezas poluições e poesias pensando: por que não a augusta?

objects of my affection

escutando peter bjorn, ouvindo na cabeça o que eu estaria dizendo se as circunstâncias tivessem permanecido as mesmas. mas mudaram e eu já não falo tanto assim e não escuto tanto assim as minhas próprias pirações. and the question is was i more alive then than i am now. i happily have to disagree. mas se estivesse estaria pensando se eu continuo sendo o que era antes ou se sou capaz de construir algo que não existia. i laugh more often now and i cry more often now. i am more me. no final das contas só o que eu queria era essa última frase. com convicção e não hesitação.