quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Rio de Janeiro


Táxis amarelos, ladeiras de paralelepípedos, árvores, árvores, passarinhos, micos, insetos diferentes, umidade, umidade, umidade, areia. Mar, coco, biscoitos globo, negros, mulatos, sol, sol, sol. Guarda-sol, não, barraca. Mate, brownie, sanduíche natural, queijo coalho. Vozes altas, parece briga, mas não, conversa, ésses, xizes, corpos esbeltos, cabeças nem tanto, nens, "eu naisci", "que horas tem?", "maneiro", suor, "rapá", mate, mate, restaurante, garçons de mau, implorar, enrolação, grosseria. Taxista, grosseria. Lapa, morros, multidão, barracas de bebida, barracas de bebida, pancadão, pancadão, pancadão, trombadinhas, adeus correntinha, não, "cordão", caos, sujeira, playboys, patricinhas, playboys, patricinhas, playboys, patricinhas, gringos, gringos. Menos samba do que pensava, metrô lerdo, maior parte das coisas lerda, tranquilidade, caos, machismo, preconceitos, cheiros, bueiros, camelôs, camelôs, história, escravidão, império, república, degradação, decadência, prédios velhos, travestis, glória, bancas de flores, bancas de flores. Pombos, porteiros de azul, porteiros de azul na calçada conversando com porteiros de azul na calçada, globo, novela no táxi, novela no restaurante, novela na padaria, poucas padarias, casas de sucos, casas de sucos, ladeiras em curva que dão em "outras cidades", morros, vielas, vista, baía, barcos, marinheiros, passagem de ônibus mais barata, bondinho, cada ônibus um preço diferente, frescão, vans, motô pisando fundo, vai saltar, não, descer, perto do farol, não, sinal, copacabana, idosos, poucos nordestinos. Trânsito, trânsito, sem corredor de ônibus, ricos vagão copacabana-centro de manhã, pobres vagão zona norte-zona sul de manhã, posto da praia para ricos e brancos, posto da praia para pobres e pretos, esfiha árabe. Policiais com fuzil pra fora do carro, viaturas caindo aos pedaços, estranhos conversam com vc na fila do ônibus, estranhos conversam com vc na fila do banheiro do posto da praia. Taxista calado, exceção. Apartamento, atual apartamento, amor, meu amor.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Estado laico



Em Madri, governo gasta milhões de euros para segurança da visita do Papa e madrilenhos já estão nas ruas para protestar. Falta os brasileiros irem às ruas por um Estado efetivamente laico.

infinite sadness




Melancolia é o tipo de filme do qual você sai pior do que entrou. Mas pelo menos um pouco mais consciente de não ser único a se sentir só, de não ser o único a questionar sem ter respostas. O pior é a pergunta "pra quê?". "Pra quê tomar banho?", "Pra que se casar?", "Pra quer tomar um vinho no deck?". Perguntas as quais Justine responde a todo momento com um arrogante: "pra nada, não serve pra nada. É irrelevante o que você faz, porque de qualquer forma tudo terá um fim e vamos morrer sozinhos", sozinhos no sentido de que morremos por nós mesmos, ninguém vai conosco.

Justine é por outro lado a mais corajosa e, também, a mais sábia. Como pensa a todo momento que tudo vai acabar independentemente se o Melancolia bater ou não na Terra, não teme por saber que não tem muito a perder. Encara o Melancolia com mais facilidade e até mesmo gozando de certo prazer em encará-lo.

Já Clair quer a todo momento o controle sobre todas as coisas, e secretamente inveja a irmã por sua melancolia corajosa e, ao mesmo tempo, sábia. Clair quer ter a falsa impressão de que pode melhorar a realidade, quer se sentir mais confortável e para isso segue rituais - rituais para ter mais beleza, felicidade, organização.

Triste concluo que meu comportamento recente está mais para Claire do que para Justine. Daí, as paranoias e a fobias.

terça-feira, 19 de abril de 2011

dias

De repente, conforme o andamento dos dias, o mau humor se declara imbatível. Todos os sons, todas as vozes são insuportavelmente irritantes. A vida fica totalmente cinza e o cá passa a ser o lugar errado para se estar. Agora que estou cá, acho que é essa a razão de todos os meus males, porque lá a grama seria mais verde. Lá eu não tropeçaria, lá o sol não racharia no meu coco. Esqueço que lá eu sentia a mesma coisa, sazonalmente, como vou sentir para sempre não importa onde esteja. Posso girar o mundo, mesmo assim, algum dia vou sentir o gosto da cinza, ranzinza.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

running

Corre corre atrás do próprio rabo. Nada faz sentido e mesmo assim todos falamos falamos. Helena sentou-se por um momento no meio de todos aqueles alunos na sala de aula e pensou. Na verdade, queria parar de pensar na ausência de sentido e focar tão facilmente no trabalho ordenado pelo professor, como faziam seus colegas.

Olhava atenta para as roupas que todos usavam e não conseguia parar de perguntar “por quê?”. Como tinha conseguido viver tantos anos achando que falar, vestir roupas, era normal? Lembrou-se do artigo que tinha lido de manhã, de uma psicanalista que dizia que o amor romântico não existia, era uma criação. Então, pensou, o que nos restava se nem o amor é natural?

Pensou de novo no formulário do plano de saúde que tinha preenchido no trabalho. Eles queriam investigar os hábitos dos funcionários, talvez para saber se o preço era realmente justo e se não se tratavam de suicidas mas, sim, pessoas saudáveis. A última pergunta era "sua vida faz sentido?". Mas que diabo, ela preencheu "não", primeiro. Mas depois lembrou que a vida fazia sentido em si mesmo, o que, no final das contas não é muito, mas é algum sentido. Aí rasurou e preencheu o "sim". Ficou contente com a sua resposta: "sim e não".