quinta-feira, 17 de abril de 2008

confusion

Ela entrou no corredor escuro com uma confusão mental característica de sua adolescência. Sabia que não voltaria atrás. Não havia portas reconhecíveis, não havia família, amigos, namorados, professores, inimigos, tentações, choros ou velas. Havia somente ela e aquele corredor escuro. Tapetes ao lado das portas, barulhos de crianças dentro dos apartamentos minúsculos, kafkianos, perturbadores do jeito que a infância é e parece ser para sempre. Correu pelas escadas sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Subia a escada de dois em dois degraus querendo a todo custo chegar mais rápido. Lembrava-se da época em que era mais leve, suas pernas mais ágeis, onde tudo não era conflito, mas vida animal, vegetativa, sem poesia, mas vida. Ela tentava a todo custo voltar, mas não iria. Não voltaria. Chegou ao topo. Ao topo do prédio, à beira do abismo, à beira do sonho e do amor eterno. Sabia que não voltaria, sabia que terminaria ali, aos 27 anos.