quinta-feira, 28 de outubro de 2010

eixos

Um só ambiente e é lá que transito o tempo inteiro. Banheiro minúsculo, cozinha minúscula e a sujeira potencializa meus tocs e frescuras. Limpo, limpo, limpo, e continuo com a sensação de coceira, cheiro de pó, à espera de que algum monstro/barata/rato me ataque a qualquer momento.

As noites não são tranqüilas. Acordo com barulhos estranhos. A chuva parece mais pesada e eu ainda temo que alague tudo. Meus pensamentos são sempre sobre catástrofes, o pessimismo é sempre anterior e com ele crio na minha cabeça formas de sobrevivência a um possível desastre que para mim é sempre iminente. Parece a infância tudo de novo. Desaconchego, incômodo, medo.

Não sou afeita a mudanças, apesar de me jogar de cara em todas elas. Não sei o que me move a mudar se toda adaptação é sempre tão dolorosa e cansativa. Sempre pensando no quanto o que veio antes era melhor. Desde o taco do chão até o espaço do box, o tipo de pessoas que encontro na rua, os sons e os cheiros.

Nos primeiros meses, é sempre o ruim que me salta aos olhos, nada positivo surge em nada, e esses pensamentos tomam a forma de uma leve obsessão. Não consigo pensar em outra coisa a não ser o quanto o tempo leva as coisas e como as coisas do passado de repente se tornam tão intocáveis e perfeitas. Mesmo que de um passado de poucas horas antes.

A beleza vem raramente. Quando o sol abre por alguns minutos nesses dias de Rio cinzento. Luzes temporárias para um cotidiano ainda feio. Até o Pão de Açúcar embruteceu quando dentro há só pedregulhos. Pedregulhos de pura paranoia, não propriamente tristeza, apenas desajuste. Quando se sabe que não está nos eixos. Sem a tranqüilidade de uma rotina de exercícios, refeições no mesmo horário e oito horas de sono.