terça-feira, 16 de setembro de 2008

prisões

Desviando-se da enxurrada lembrou-se do tempo em que não precisava de médicos para pensar, fisioterapias para andar e robôs para ouvir música.

Caminhando pelas saudades se deu conta de que havia sido outro há pouco tempo. Dois segundos atrás. Dois dias e quatro anos. Quando era uma esponja de sensibilidade, e via.

Teve pena de si mesmo e de sua psicanálise, seus livros que não lhe diziam nada, suas corridas paradas na esteira, sua casa no centro, suas bebidas que já não lhe libertavam mais, de seu dinheiro gasto em baladas de música ruim. Percebeu que se debatia, buscando a salvação nos lugares er-ra-dos.

Buscava se encontrar na perdição.

Sentia calafrios de pensar que envelhecer já tinha chegado.

pedregulho

Voltar a velhos tempos como se nada tivesse acontecido é como se agredir aos poucos e fingir que não dói. Nada volta ao que era antes. O passado se esvaiu assim como a sobriedade e a lucidez se esvaem no presente. Mesmo depois de sessões de psicanálise que só organizam os pequenos pedaços do pedregulho pesado que carrego nas costas. Ele se torna mais leve, mas nem por isso menos insano. Se torna mais leve por breves momentos, mas depois volta a pesar, como se dragado para baixo, com a gravidade engolidora.

- Cole um post it na tela do computador para se lembrar do quanto é leve, sempre leve.
- Sim, teria de colar em todos os olhares que vejo, em todos os lugares a que vou, em todo o ar.
- Isso, cole.
- Vou comprar no Kalunga.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Madman

Os homens são tão necessariamente loucos que não ser louco seria uma outra forma de loucura. Necessariamente porque o dualismo existencial torna sua situação impossível, um dilema torturante. Louco porque tudo o que o homem faz em seu mundo simbólico é procurar negar e superar sua sorte grotesca. Literalmente entrega-se a um esquecimento cego através de jogos sociais, truques psicológicos, preocupações pessoais tão distantes da realidade de sua condição que são formas de loucura — loucura assumida, loucura compartilhada, loucura disfarçada e dignificada, mas de qualquer maneira loucura.

Ernest Becker, A negação a morte.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Neblina e Sombras, Woody Allen

Eles precisam da ilusão como precisam de oxigênio


"a relação pessoal é, na verdade, um emaranhado confuso de apreensões errôneas e, na melhor das hipóteses, uma trégua incômoda entre poderosos sistemas solitários de fantasia".

Janet Malcolm, sobre a idéia de transferência de Sigmund Freud

"Every quirky adult relationship, from doctor/patient seriousness to disastrous love affairs, follows personality-scripts written well before puberty. If carried far enough, the idea makes romantic love seem
like a pathetic fantasy."

Idem.

Sou o começo, sou o fim, sou o A e o Z.