domingo, 10 de agosto de 2008

fuga

Após quatro dias sem dormir, ele ainda sonhava. Criava cenários fantasmagóricos em sua mente olhando apenas para o rachado do teto do quarto. Sentia frio, vontade de agarrar o primeiro ser que visse na frente para se aquecer e se deixar absorver. A fechadura da porta emperrava a entrada de qualquer um. Seu coração congelava e seu espírito, doía. Suava frio e as gotas lhe cegavam por segundos. Via que em frente haveria algo. Esperava que em frente haveria algo. Mas não tinha paciência para esperar.

- Saia daí antes que se afogue, dizia ela, com uma autoridade e segurança que ele invejou.
- Não saio até que encontre a gota dágua perfeita - respondeu com uma voz indecisa entre o rouco e o desânimo total.

Nada o faria desistir da tentativa eterna. Tentar era o que restava porque sabia que voltaria para o mesmo lugar. Poderia girar o mundo sem que saísse da sala de estar. Da sala de mal estar. Girava em torno do eixo de si mesmo não importa onde estivesse. Lima, Budapeste, Paris, Buenos Aires. Dentro estaria onde estava desde a concepção. Desde o ato maior da concepção.

- Não consigo parar de pensar em mim mesmo, acho que sou egocêntrico, egoísta, egolatra, egolover.
- Tente pensar em um ponto fora de si mesmo e se equilibrar nele. Coloque todo seu peso em cima desse ponto minúsculo que encontrar fora de você.
- Não encontro nenhum ponto fora de mim, além dessa agulha que entra no peito como se uma bolha bailasse entre meus ossos e músculos.
- Melhor procurar um médico, then.

There's a look in your eyes and a crazy smile.