quinta-feira, 14 de maio de 2009

Irreversible


Le temps détruit tout. O tempo destrói tudo. Tenho que repetir repetir repetir para uma hora entrar na cabeça. O tempo destrói as paixões, desconstrói as ilusões, faz o bonito virar feio, o prazer virar horror, o novo, velho. Mas também cria novos seres, novos sentimentos, olhares. Que vão ser mais uma vez destruídos. Como a teoria da produtividade capitalista de Marx. Produz, produz, produz, até que vem a crise para nos fazer começar tudo de novo. “Felicidade”, “paixão”, “êxtase”. Ou mesmo “isso que chamamos de amor, esse lugar confuso entre o sexo e a organização familiar”, como disse Caetano. Apagam-se e se renovam. O jeito é comprar chás, incensos, tomar calmantes homeopáticos, fazer terapia, exercício. Ou deixar lá, parado, crescendo, crescendo, acumulando, doendo. E passar por tudo over and over again. Ainda estou no primeiro degrau. Virão XX.000.000.000.000. Saberei lidar melhor com os próximos? Dois passos à frente e você já não está no mesmo lugar. Dois passos para trás para dar um à frente. E aceitar o irreversível de braços abertos. Não querer enfiar o dedo no ventilador. Não querer engolir perdões, arrependimentos, lembranças para despistar. Le temps détruit tout.
Não apresse o rio, ele corre sozinho.