segunda-feira, 29 de junho de 2009

Bolotas de poeira

Quase todos os dias aquela paz reinava sem explicação. Clotilde achava que eram os remédios, aqueles bem naturais que a tornavam cada vez mais natural. Suas mãos estavam mais leves, seu espírito, mais limpo e belo. Nem mesmo as bolotas de poeira nos cantos da casa a incomodavam tanto. Não sentava no chão, mas também não espirrava, enlouquecida. As adversidades eram cada vez mais belas em sua diversidade. Aceitou o novo e o velho como irmãos. Chorava de felicidade, ria sem pensar. — Comemore todos os seus aniversários, Clotilde, a vida é para ser celebrada. Via o real pelo buraco de uma câmara escura. Tudo merecia ser registrado, do mais simples ao mais difícil de ser compreendido. — Quando o homem percebe a heroicidade de seu cotidiano, aquele desejo de ser o herói impossível se acalma. Percebe que não precisa fazer além de.