quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

The Corporation

Um dos problemas da minha geração é o fato de não haver um inimigo comum a combater. Claro que o capital é um inimigo, mas a minha é a primeira das gerações que passou a vê-lo como algo inevitável e perpétuo. Aquela preguiça burra de se conformar quando as coisas parecem difíceis de serem mudadas, já que existem desde que nascemos e continuam a existir. Daí, os que não se conformam, ficam dispersos. Vão para o Greenpeace, para o PSTU, para algum templo zen budista, para a psicanálise, ou para a arte individualista. Todos lenitivos para tentar viver melhor em meio a uma realidade angustiante permeada pelo produto e pela prevalência da imagem.

Mas ontem vi The Corporation algumas coisas ficaram mais claras. No final das contas, todos esses movimentos, desde os de defesa dos direitos dos animais até os de defesa dos direitos dos trabalhadores, até o indivíduo angustiado no divã, estão tentando se proteger das conseqüências do poder ilimitado das grandes corporações. Elas são a real face do capitalismo hoje, um grupo de no máximo 200 empresas que passam por cima de toda e qualquer lei estatal que defenda algum tipo de interesse coletivo para obter seu único objetivo: lucro máximo.

Daí a ausência de democracia. É possível democracia em um mundo onde as grandes corporações têm total poder para fazer o que quiserem para ter mais e mais lucro? Corporações podem explorar trabalhadores em qualquer país do globo, desrespeitando qualquer lei ambiental e de direitos humanos, e os governos locais ainda agradecem, já que elas estão “incentivando a economia local”. Corporações podem usar meios ilegais para aumentar a produtividade com a conivência de governos e da mídia. E com a globalização, se tornam ainda mais poderosas, fazendo com que leis de cada nação se pareçam mais uma piada. No lugar da Igreja e do Estado, as corporações formam a instituição mais poderosa hoje. Só que ninguém as elegeu, e ninguém as percebe como um poder único.

Que importa a eleição de Obama, sendo que quem realmente governa os EUA e o globo são os grandes grupos empresariais? As regras já estão dadas. E o pior, nem mesmo dentro das empresas há algum tipo de democracia. Nem mesmo os CEOs (jargão militar!) sabem o que estão fazendo. Têm que prestar contas a acionistas, cujo único interesse é a alta rentabilidade. Ou seja, mesmo que bem intencionado e preocupado com o “bem coletivo” um CEO não é capaz de mudar nada dentro de uma corporação, já que a lucratividade é o objetivo maior. Ignorância dos interesses coletivos em nome dos privados: caos.

O caos já existe faz tempo do lado de cá, das conseqüências, dos males ao meio ambiente e da pobreza generalizada, da concentração do capital de forma a impedir qualquer reação, já que é cada vez mais difícil se tornar dono de um meio de produção. Mas agora o caos está passando para o lado de lá. Esse total desrespeito aos interesses coletivos está engolindo o próprio capital que, se der lucro, é capaz de vender a própria corda que vai enforcá-lo. Claro que não sou tão inocente a ponto de achar que ele vai acabar aqui. Ele encontra seus meios de se perpetuar. As crises são feitas justamente para ele se perpetuar, quando muitos estão ganhando, os mais fortes dão um jeito de alijar os bicões da festa.