terça-feira, 27 de julho de 2010

bonds



Rosa não sabia mais distinguir o amor. Esperou Pedro chegar ao restaurante para lhe dizer que havia enlouquecido, que parecia estar amando tudo e todos ao mesmo tempo, toda a humanidade, todas as folhas de árvores e até a poeira embaixo do colchão. Todos pareciam interessantes em seu modo peculiar de apenas ser. Se houvesse esforço, cada um, de perto, era um pequeno universo a ser explorado, tão gigantemente interessante que ela sentia vontade de abraçar. Tinha de haver algum problema nesse comportamento promíscuo.

"Quem gosta de todo mundo não gosta de ninguém", disse Pedro. Pedro e suas sacadas sarcásticas. Pedro e suas verdades. Ele sempre tinha um ponto de vista tão diferente do seu, mas por algum motivo, tão semelhante, como se ele fosse ela só que um pouco mais à frente no tempo.

Sim, ela pensou. Talvez não amasse realmente ninguém, porque é impossível amar tantas coisas ao mesmo tempo, não há espaço. Ou não, talvez estivesse amando mais a si mesma, o que a tornava capaz de amar a todos ao mesmo tempo pela primeira vez. Engolir a vida com o coração maria-mole.

"Coração que amolece não endurece depois", avisou Pedro, impaciente. "Afinal, quando você vai apenas sentir?".